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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

REVIEW DO LIVRO STAR WARS: KENOBI

Por J. B.

Obra & autor
Essa semana, depois de vários adiamentos, consegui concluir a leitura de Star Wars: Kenobi, que antes pertencia ao Universo Expandido, agora batizado de Legends.

O livro foi o primeiro trabalho de John Jackson Miller com o Universo Expandido. Inicialmente, em 2006, a ideia surgiu como um roteiro para uma série de HQs que seriam publicadas pela Dark Horses, no entanto, Miller percebeu que suas anotações renderiam um romance completo, e engavetou o projeto. 

Só em 2012 é que os seus rascunhos ganharam a forma de um romance, elevando-o a um novo patamar de feitos dentro do universo de Star Wars, sendo enfim publicado em em 2013. Star Wars: Kenobi já lhe rendeu quatro estrelas em todas as revistas online especializadas.  John Jackson Miller nasceu em 1968 nos Estados Unidos e além de autor e jornalista, também é historiador. 

Miller conseguiu escrever uma obra usando uma visão que nos remete ao mundo do Western Spaghetti, com seu saloon e brigas em Mos Eisley, suas famílias de fazendeiros e o clima de oportunidades sem lei típico das cidades fronteiriças.

Mesmo com sua experiência Miller sempre correu certos "riscos" ao mexer em um universo tão rico, amplo e cultuado por milhões de pessoas no mundo todo, principalmente ao contar a história de um dos mais conhecidos personagens desse universo

Obi-Wan Kenobi
Mesmo assim ele aceitou o desafio, e escreveu sobre um dos períodos mais sombrios da Galáxia, após os terríveis acontecimentos mostrado em Star Wars III: Revenge of the Sith, que deram fim à República e entregaram o controle a um Lord Sith, coube ao grande Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi a missão de esconder e proteger o recém-nascido Luke Skywalker, fruto da união conturbada entre o Jedi Anakin Skywalker e a princesa Amidala, que poderá a última esperança da resistência ao Império. 

Para isso ele se dirige às escondidas para o remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da galáxia, onde entrega o bebê ao jovem casal Owen Lars e Beru Whitesun. Naquela que, com certeza é a missão mais importante de sua vida como Cavaleiro Jedi. Com Palpatine governando com mão de ferro o Novo Império Galáctico e Anakin transformado em seu braço direito, o temível Lord Sith Darth Vader, a única chance de Obi-Wan Kenobi e do pequeno Luke é manter-se no completo anonimato. Uma ótima maneira que o autor encontrou de manter esse anonimato foi fazer com que os momentos onde Kenobi usa seus poderes Jedi, aconteçam nas sombras, no telhado interno de um jardim em um prédio, no meio de um fogo cruzado de blasters ou através dos olhos de um bêbado.

Para isso, ele tenta de todas as formas evita o contato com os habitantes locais. No entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o "Ben Maluco", como o Cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na luta pela sobrevivência dos moradores de um oásis esquecido no meio do deserto e em seu conflito contra os perigosos Tuskens, também chamados o Povo da Areia, uma espécie de nômades, ou beduínos do deserto, que estão em constante conflito com os colonos e os fazendeiros.

Kenobi e os Sois Gêmeos de Tatooine
Devido aos acontecimentos recentes na vida de Kenobi, como por exemplo as mortes dos inocentes Padawans, a perda de Anakin para o Lado Negro da Força, a morte dos companheiros Jedis, a dissolução da República, entre outros. Kenobi sente o peso da suas responsabilidades com um dos últimos Cavaleiros Jedis na Galáxia, bem como o sentimento de culpa por ter falhado com todos eles. Sendo constantemente julgado pela sua consciência: 

"Eu estou vivo e eles não; eu falhei, enquanto eles lutaram até o amargo fim".

Refugiando-se no anonimato, Kenobi, passa a seguir um caminho completamente diferente do que havia trilhado até então, primeiro ao lado de seu Mestre Qui-Gon Jinn e depois de seu próprio Padawan Anakin Skywalker. Em Tatooine ele deixa de ser o Cavaleiro Jedi e tenta sobreviver como um sujeito comum, um colono iniciante, que gosta de viver isolado, e que só quer cuidar da própria vida e, uma vez ou outra, visitar, as escondidas, os Lars e certificar-se de que o pequeno Luke continua em segurança. Mas as coisas não acontecem da maneira como o Ben Maluco gostaria que ocorresse. Ainda mais numa região onde os nativos locais, os Tusken causam tantas confusões . E, é claro, Obi-Wan não ficará despercebido, e muito menos os problemas e os conflitos locais o deixarão em paz por muito tempo.

Residência de Obi-Wan Kenobi em Tatooine
Os primeiros capítulos são um pouco monótonos, já que os mesmos servem para apresentar os personagens principais.  No entanto a medida em que a trama vai se firmando e os personagens vão ganhando vida e personalidades próprias, a história passa a atuar mais abertamente, e os conflitos e situações acabam por levar o personagem central, gradativamente, a assumir uma nova postura dentro da sua filosofia Jedi. 

Mas, não pense que devido ao seu isolamento ele está completamente vulnerável. Entre desilusões, conflitos íntimos, traições, paixão e ganância o Cavaleiro Jedi que um dia ele foi nunca estará completamente em animação suspensa.

Parte do envolvimento de Ben com os colonos é trabalhado, de forma magistral, em um "triângulo amoroso" formado por ele, Annileen e Orrin Gault, o maior fazendeiro de umidade da região. Apesar de ser um tema já usado inúmeras vezes, Miller consegue trabalhar ele sem se ver obrigado a apelar para muitos clichês. Além de ocorrer num ritmo natural, parte da leveza e bom humor da narrativa é devido às situações que se criam entre os três.

Tribo de Tusken, o Povo da Areia
Já o relacionamento entre Ben e a dona de armazém Annileen é um dos meios utilizados por John como forma de nos mostrar, externamente, a gama de conflitos internos existentes na mente do Ben, conflitos esses gerados pela culpa que ele carrega. Isto rende um diálogo entre ele e Annileen no qual tais conflitos são abordados sem que seus motivos sejam explicitamente revelados, confirmando a qualidade do texto do John.

Uma das coisas que merece ser destacada é a forma como Miller nos apresenta a maneira como as sociedades humanas, com suas alianças e, de certa forma políticas internas, entre os fazendeiros e colonos e em contra partida a forma de viver dos Tuskens, um povo bárbaro, para o qual só existe a lei do mais forte. Ele consegue nos mostrar tudo isso sem negligenciar o desenrolar da trama e o desenvolvimento dos personagens, que são bem construídos, com um background rico, que vai aos poucos sendo revelado ao leitor.

Manada de Banthas
Outro detalhe que podemos perceber é que John usou uma abordagem que não nos leva a ter um pensamento maniqueísta sobre os personagens. Ele dá ao leitor a oportunidade de se aprofundar nos dramas e nas motivações dos fazendeiros e do Povo da Areia. Com isso consegue trabalhar de forma eficiente a questão da relatividade das visões de mundo, e das interpretações dos conceitos de bem e mal. 

Em relação aos conflitos físicos descritos, ele conseguiu evitar que o leitor se perdesse enquanto acompanha a ação, escrita por sinal com bastante clareza, no entanto o que, talvez seja mais esclarecedor, é um momento em particular, em que tendo passado o calor da revolta e raiva despertos pelo ataque dos Tuskens ao armazém de Annileen, ela e Ben têm um encontro revelador com A’Yark, líder do Povo da Areia e mais conhecido como Olho de Rolha em virtude de usar um cristal no lugar de um dos olhos. É a partir desse encontro que começamos a compreender com mais profundidade as ações deles 

E apesar de aparecerem menos, os Tuskens não são retratados como os vilões da história. John fez questão de nos mostrar o lado deles, coisa nunca feita antes no Universo Star Wars, e esse ponto de vista é centrado em A’Yark. Vemos um cuidadoso trabalho na elaboração de seu passado, e na omissão de um detalhe que, quando revelado, muda nossa visão a seu respeito, além de dar-nos uma oportunidade única de explorar mais profundamente a cultura Tusken.

Dos muitos personagens que compõem a trama, podemos destacar os já citados Annilen Calwell,  uma viúva que assumiu os negócios da família, que consiste de um armazém, de A'Yark, líder de guerra de uma tribo Tusken e de Orrin Gault, fazendeiro de umidade  oportunista e líder do Chamado dos Colonos, a milícia formada por fazendeiros locais para combater os Tuskens. E além dos fazendeiros, Tuskens, Banthas e Sarlacs, Kenobi também conta com gangsters do conhecido criminoso Jabba - The Huts, para lhe desviar do seu principal objetivo: o isolamento.

O único defeito que encontrei nessa obra foi em relação ao excesso de confiança que o autor tem no grau de conhecimento do leitor, em relação ao aspecto visual dos habitantes não-humanos e aos animais que povoam Tatooine.

Há muitos trechos em que você terá, forçosamente, que parar a leitura e fazer uma rápida pesquisa na internet, a fim de poder visualizar cada uma das criaturas citadas pelo autor, e mesmo assim algumas vc terá que colocar sua imaginação pra trabalhar, já que não existem artes conceituais na Web. 

Star Wars: Kenobi é uma ótima chance de conhecer novas facetas de um dos personagens mais importantes da saga criada por George Lucas, escrita num ritmo que torna a leitura agradável por um autor que sabe a hora certa de investir na aventura, drama ou ação.

Finalizo comentando uma das ideias mais bem utilizada na obra, trata-se dos intervalos entre alguns capítulos, nos quais temos acesso a algumas reflexões de Ben a respeito dos últimos acontecimentos da trama, reflexões essas que são debatidas, em forma de monologo, com um ausente Qui-Gon Jinn. Isto faz com que nós, leitores, tenhamos acesso a um lado mais íntimo do solitário jedi, nos dando com isso momentos de respiro e introspecção à narrativa.

Nota: 9,5.

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